20 - Petrobras e Faixa de Gaza: combustível brasileiro no massacre do povo Palestino?
Série "O que tem a ver com a nossa vida?"
O governo do Brasil tem adotado uma posição oficial de condenação aos ataques de Israel contra a população palestina na Faixa de Gaza, denunciando o massacre como uma violação do direito internacional e da dignidade humana. No entanto, uma contradição gritante coloca em xeque a coerência dessa postura: o país, por meio da Petrobras, tem exportado derivados de petróleo ao próprio Estado de Israel, mesmo com a escalada do genocídio em curso.
Desde março de 2024 se noticia sobre o envio de petróleo brasileiro para Israel e que isso vem aumentando desde o conflito iniciado entre Hamas e Israel em outubro de 2023. No Brasil de Fato a notícia publicada em 02/07/2025 é que, essa denúncia não é apenas política ou retórica, mas foi incorporada a um relatório oficial da Organização das Nações Unidas (ONU), que cita no item 59 a Petrobras entre as empresas internacionais que fornecem recursos essenciais à máquina de guerra israelense, como petróleo e combustível para jatos de guerra.
O documento, publicado pelo Conselho de Direitos Humanos - (From economy of occupation to economy of genocide, no original) - que a atuação de companhias como a estatal brasileira pode configurar cumplicidade com crimes de guerra e contra a humanidade, especialmente ao garantir combustível usado diretamente nas operações militares que resultaram na destruição sistemática de hospitais, escolas, abrigos e infraestruturas civis em Gaza.
A denúncia é contundente: os navios identificados como Nordic Wolverine e Aristofanis, ambos carregados com produtos derivados do petróleo da Petrobras, desembarcaram em portos israelenses entre outubro de 2023 e março de 2024, período em que o massacre em Gaza se intensificou, com milhares de mortos civis, majoritariamente mulheres e crianças. Ou seja, enquanto o Brasil discursava em fóruns internacionais pela paz, enviava combustível que ajudava a alimentar os tanques, os aviões e a logística do extermínio. De acordo com o relatório, isso representou cerca de 1/3 das exportações brasileiras para Israel em 2024.
É importante lembrar que a Petrobras é uma empresa de economia mista, com capital aberto, mas majoritariamente controlada pelo governo brasileiro, que detém mais de 50% das ações com direito a voto. Isso significa que o Executivo Federal, atualmente governo Lula 3, tem poder de decisão direta sobre as diretrizes comerciais da empresa. E mais: não se trata de simples operação de mercado neutra. Desde 2023, diversas organizações de direitos humanos, juristas internacionais e até mesmo instituições da ONU vinham alertando sobre os riscos legais e éticos de manter relações comerciais com o governo de Israel, especialmente com produtos estratégicos como combustível, que têm uso direto em operações militares.
O caso coloca o governo Lula 3 diante de uma de suas mais agudas contradições: de um lado, a retórica progressista do governo, pró-Palestina e em defesa dos direitos humanos; de outro, a realpolitik que silencia diante da lógica dos lucros e da geopolítica de interesses. O mesmo governo que criticou duramente os Estados Unidos e a União Europeia por apoiarem Israel continua vendendo produtos que abastecem o cerco, o bombardeio e o colapso humanitário na Faixa de Gaza.
O silêncio do governo brasileiro diante das denúncias só agrava a situação. A empresa não respondeu oficialmente às acusações da ONU até o momento, e o governo brasileiro tampouco anunciou qualquer medida para suspender o fornecimento de derivados a Israel. Isso não é uma omissão qualquer: é uma escolha política. E uma escolha que custa vidas.
Dizer que “não se pode interferir nas operações de uma empresa estatal” é se esquivar da responsabilidade. O mínimo esperado seria o compromisso público de interromper qualquer fornecimento de insumos que possam alimentar crimes de guerra e uma posição clara de que o Brasil não será cúmplice do genocídio palestino. A retórica progressista, quando não acompanhada de ações concretas, se converte em cinismo diplomático e cinismo político para plateia. Até o momento o governo brasileiro tem se esquivado de pedidos públicos para que o país rompa relações diplomáticas e comerciais com o regime israelense.
No fim das contas, a pergunta que fica é incômoda, mas necessária: quantos litros de sangue cabem num barril de petróleo brasileiro? Porque é isso que estamos exportando quando permitimos que o combustível do nosso país seja usado para massacrar um povo que grita, dia após dia, por dignidade, por terra, por vida.
Obs: imagem de capa gerada por IA (Open IA) sob comando humano.